
Você comeu alguma coisa diferente e, pouco depois, veio aquela sensação ruim no estômago. Esse é um quadro muito comum e pode ser apenas sinal de que aquela comida "não caiu bem". Mas quando você sente uma má digestão sem fim, com desconforto, distensão abdominal e flatulências constantes, diarreia e ainda nota perda de peso e outros sinais ou condições pré-existentes, pode ser que o problema não esteja seja apenas de digestão, mas um alerta de que o pâncreas não está nada bem.
O pâncreas é uma glândula de suma importância no corpo humano e uma de suas funções está diretamente ligada à digestão. Na função exócrina, especificamente, o pâncreas produz e libera enzimas para dentro do duodeno.
O órgão começa a trabalhar antes mesmo de a pessoa ingerir o alimento. Ao ver e sentir o cheiro da comida, ele já é estimulado. Quando o alimento é ingerido, a distensão gástrica resulta em mais um estímulo. Depois, no momento em que o bolo alimentar passa pelo estômago e vai para o duodeno, recebe a ação dos sucos, o pancreático e o biliar.
O suco pancreático, aquele com as enzimas produzido e liberado pelo pâncreas exócrino, é essencial para a sequência da digestão porque ajuda a quebrar nutrientes e preparar o ambiente para absorção deles pelo organismo.
Falhas na função exócrina do pâncreas e as consequências da má absorção de nutrientes
Quando há falha nesse sistema, temos um quadro de Insuficiência Exócrina do Pâncreas (IEP). Trata-se de uma condição secundária a doenças pré-existentes, como pancreatites, câncer de pâncreas, fibrose cística, além de outras, como diabetes e doença celíaca.
Com isso, a absorção de nutrientes fica comprometida. Muitas vitaminas, como A, D, K e E, que são lipossolúveis, deixam de entrar no organismo de forma correta, por exemplo. O resultado disso, no longo prazo, é uma série de problemas, como:
ossos mais frágeis e osteoporose, pela falta de vitamina D
deficiência visual, principalmente no escuro, pela falta da vitamina A
problemas neurológicos, pela falta de vitamina E
maior risco de hemorragia, pela falta de vitamina K.
Além disso, há o risco de chegar a um quadro geral de má nutrição, com perda de peso acentuada e perda de músculos.
Vale ressaltar que a IEP é uma condição e pode levar a uma série de doenças, como tumores, osteoporose, sarcopenia, entre outros, até a falência da função exócrina do pâncreas.
Quando ligar o sinal de alerta para um problema na função exócrina do pâncreas?
Não é todo desconforto ou inchaço que está relacionado ao pâncreas. Entretanto, algumas doenças pré-existentes e hábitos podem levar o médico - e também o próprio paciente - a desconfiar de um quadro de IEP.
Por exemplo, se além dos sintomas descritos da má digestão, o paciente apresentar pancreatite crônica ou tumores na cabeça da glândula, já é possível falar em IEP. Porém, a condição também aparece em quadros mais simples e mais comuns. Quem bebe aos finais de semana já pode ter, dependendo de características genéticas, algum grau de acometimento pancreático e isso pode ter relação com a IEP.
Deficiência das vitaminas citadas acima, presença de gordura nas fezes, ter feito uma cirurgia bariátrica ou ser fumante também são fatores a serem levados em conta. Nesse casos, é importante uma avaliação mais minuciosa para identificar se há a IEP1.
Pacientes com doença celíaca, doença inflamatória intestinal, idosos com perda de peso e diabetes também estão sujeitos a desenvolverem IEP, ou seja, também vale uma investigação a mais na presença de um quadro de má digestão.
E agora, o que fazer?
Como os sintomas de problemas na função exócrina do pâncreas se confundem com os de outras enfermidades, é importante manter o alerta ligado e procurar um médico caso desconfie daquele desconforto que não passa, ainda mais se tiver alguma das doenças ou hábitos citados acima.
E o tratamento é feito com a reposição de enzimas3. Após dois ou três meses é feita uma série de exames para ver marcadores nutricionais, como os níveis de vitaminas A, E e D3, que avaliam se o tratamento está sendo efetivo.
Com a reposição, o paciente terá uma melhora na digestão de gorduras e proteínas, no quadro nutricional e mais qualidade de vida. Além disso, há sobrevida em casos de câncer de pâncreas irressecável (especialmente, naqueles com perda de peso significante) e também naqueles que se submeteram à cirurgia para câncer de pâncreas ou apresentam pancreatite crônica1.